terça-feira, 11 de outubro de 2011

Uma praga urbana?

Jornal do Brasil
Celso Franco

Com este título, sem a interrogação, o jornal O Globo comentou a matéria sobre o fracasso do “choque de ordem” em disciplinar o estacionamento explorado pelos flanelinhas, que eu prefiro chamar de “os camelôs” do estacionamento. Este problema social, como, aliás, tem o trânsito, como o terceiro do mundo, é muito parecido com o do tóxico e a nossa juventude. Se os pais não cuidam dos filhos, um traficante o adota. Se o poder público não organiza o estacionamento, como um todo, adotando uma política racional, os guardadores clandestinos o fazem, sem racionalidade e caminhando para a formação de quadrilhas, não raras vezes com a colaboração de maus policiais militares. Cansei de ver, da janela de meu escritório, quando o tinha na esquina da Avenida Beira Mar com a Avenida Antônio Carlos, todas as sextas feiras, uma viatura da Polícia Militar vir recolher, com o flanelinha da área, a féria da semana.
Que eu saiba, o último estudo sério de um plano de estacionamento foi realizado em 1968, na nossa gestão no DETRAN, quando um grupo de urbanistas, engenheiros de tráfego e um representante da direção da Associação dos Guardadores Autônomos e outro da Fundação dos Terminais Rodoviários, que em conjunto, exploravam o estacionamento nas vias de circulação, elaborou um magnífico estudo para o então Estado da Guanabara. Deste estudo nasceu uma planta colorida geral da cidade, onde estavam definidas, em cores diferenciadas, as diversas áreas onde se poderia estacionar e o regime de tempo para fazê-lo. Nasceu também o “Disco de Estacionamento”, para o controle dos locais de estacionamento rotativo, copiando o que existia de Paris desde o final da década de 40.Tão importante e inédito foi este trabalho que, ao ser apresentado ao governador Negrão de Lima, mereceu dele, embaixador que foi e, portanto com vivência internacional, a seguinte observação para o grupo: “Parabéns por este trabalho civilizado”. Ainda coube a nós, quando fora do governo, introduzirmos o tipo de papeleta de registro do período de estacionamento, copiado de Israel, e que foi adotado quando da criação naquela cidade, da área de estacionamento rotativo, no seu centro comercial, com o nome de “Zona Azul” e que, chegou até o Rio, quando de nossa volta ao DETRAN, em 1975.
Causa-me estranheza que o controle de ordem neste importante detalhe do tráfego urbano, uma vez que, todo estudo de tráfego começa com a pesquisa de “origem e de destino”. Não se pode abandonar o controle do destino dos fluxos de carros, sob pena de estarmos cooperando com a desordem que, aliás, já se implantou, no centro do Rio, não esteja a cargo da autoridade responsável, no caso a CET Rio. Deveria ser encargo exclusivo do policiamento de trânsito, orientado por aquele órgão. O controle da irregularidade, erradamente chamada de “praga urbana”, não é nada de impossível, só exige competência, trabalho e a presença da autoridade responsável, tanto a policial como a de engenharia de tráfego, nas ruas, em apoio e até fiscalização do policial, a quem cabe coibir a presença dos guardadores clandestinos, hoje, segundo o próprio noticiário, já organizados e quadrilhas.
Não é uma praga urbana esta irregularidade que, não acredito exista em São Paulo, por exemplo, a julgar pelo que vi quando lá vivi o melhor e mais bem remunerado período de minha vida profissional.
Se desejarem qualificar alguma praga urbana, elejam a omissão do poder público, responsável pelo bem estar do pagador de impostos, que somos todos nós, as vítimas desta sim, verdadeira praga.
* Celso Franco, oficial de Marinha reformado (comandante), foi diretor de Trânsito do antigo estado da Guanabara e presidente da CET-Rio.
Jornal do Brasil - Trânsito - Uma praga urbana?

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